BARBACENA (MG) – Valdineia acorda às 4h40, acende o fogo, coloca a água na chaleira. Enquanto o fogão a lenha esquenta, ela lava o rosto e se veste para mais um dia de trabalho no campo.

Faz e toma o café. Arruma a mesa para os seus. Junto com os primeiros raios de sol, vai para o curral onde prepara o lugar para a primeira ordenha do dia. Enquanto isso, o caçula e o marido tiram os animais do pasto. Ainda às seis horas da manhã, a mulher e o marido retiram os primeiros litros de leite.

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Mateus se dirige ao pasto para cortar capim, na segunda missão do dia antes de ir para a escola. Depois, ele busca os animais no pasto. São pelo menos 30, entre vacas e cavalos. O sol já está mais forte; o suor incomoda. Toma banho às 10h30 para ir ao colégio, onde cursa o ensino fundamental no turno da tarde.

“Às vezes ele vai à escola sem almoçar porque o gado fugiu, porque a cerca arrebentou e não deu tempo para comer antes de o ônibus passar”, conta a mãe. O menino não reclama, só sorri. Ele quer ser médico para cuidar da mãe.

Emocionada ao falar da rotina pesada do filho, ela lembra que ele começou a ajudar nas tarefas da roça com apenas 4 anos, assim como ela. E continua: “Às vezes dá vontade de desistir. De comprar um carro e ir para São Paulo, tentar a vida na cidade. A vida no campo é muito dura”.

Enquanto Mateus parte para a escola, a filha Cailane, de 13 anos, chega. Almoça, lava a louça, arruma a cozinha. A essa altura a mãe já abateu, limpou e cozinhou a galinha, servida com arroz, feijão e salada da própria horta. Quase sete horas de trabalho e uma pausa antes de pegar no segundo turno, que vai durar o mesmo tanto de tempo.

Bruna Bohrer

À tarde já estão todos envolvidos novamente com os preparativos da ordenha. Menos Mateus que ainda não chegou do colégio. E o trabalho todo se repete. Mateus chega e vai fazer os deveres da escola enquanto os demais trabalham.

Já é noite. Finalmente Valdineia interrompe o trabalho para uma conversa conosco dentro de sua casa. Acende o fogo para nos servir um café. Perguntamos sobre a reforma da previdência, se ela conhece as mudanças previstas para o trabalhador no campo.

“Isso é uma boca de roubo. Eles tinham que vir até aqui acordar cedo como nós e ver o duro que é”. O desabafo não termina. “Se a mãe da gente morre, nem assim a gente pode parar”.

São 14 horas de trabalho todos os dias. Deixamos a casa dos Silva às 20h, e a mãe de Cailane e Mateus se despede com um balde na mão, lavando o curral.