Não dá para falar em recuperação quando o nível de ocupação mais uma vez recua para o pior patamar da série histórica. Numa economia onde o consumo das famílias tem 64% de peso no Produto Interno Bruto (PIB), o emprego é fundamental. E não há sinal de quando ele voltará a crescer.

Das pessoas em idade de trabalhar, 53,2% estavam ocupadas no trimestre da última pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um ano antes, o nível de ocupação era de 54,6%.

Foram fechados 1,3 milhão de postos de trabalho em um ano. Nem mesmo a agropecuária, que deu um sopro de vida ao PIB depois de oito trimestres em queda, foi capaz de criar postos de trabalho. Pelo contrário, houve queda de 7,7% no total de ocupados. Na indústria e na construção civil também houve fechamento de vagas (1,9% e 8,7% respectivamente). Já no setor de serviços houve mais taxas positivas do que negativas.

Como o maior corte das vagas ocorreu no emprego formal, de maior qualidade, mais pessoas da família tiveram que sair em busca de emprego para compensar a redução no orçamento, conforme explicou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.

“Desfazer um posto de trabalho com carteira é rápido; recompor esse posto de trabalho demanda mais um tempo. A falta da carteira assinada reflete uma instabilidade no que diz respeito a aumentar, inclusive, a quantidade de pessoas procurando trabalho”, afirmou o pesquisador do IBGE. “Nós estamos, agora, no menor patamar da série e demora um tempo até ela se recuperar. Teremos a criação de empregos sem carteira, da informalidade, até que, efetivamente, só quando se der a melhora do mercado de trabalho – e não sabemos quando isso vai acontecer”.

Foto: Divulgação/IBGE

Cimar Azeredo, pesquisador do IBGE: “Não sabemos quando haverá melhora no mercado de trabalho

O IBGE registrou um total de 14 milhões de desempregados, com incremento de 2,6 milhões de pessoas em um ano.

Diante deste cenário sombrio no mercado do trabalho, os brasileiros continuam segurando gastos. Como a renda das famílias não recuou como o emprego, foi possível aumentar ligeiramente as reservas. E foi o que ocorreu no primeiro trimestre do ano, quando a taxa de poupança do País subiu. De 13,9% para 15,6% do PIB.

Pelo oitavo trimestre seguido, todos os componentes da demanda interna apresentaram resultado negativo na comparação com igual período do ano anterior. O consumo das famílias caiu 1,9%. A formação bruta de capital fixo, termômetro dos investimentos, sofreu contração de 3,7% no primeiro trimestre de 2017, a décima segunda consecutiva.

O que salvou o PIB de uma nova queda foram as exportações, que cresceram no primeiro trimestre. Isso sim pode ser comemorado, a reação das exportações, da safra agrícola, do agronegócio.

No mercado interno, continuamos na mesma, com cortes de emprego, principalmente os melhores, com carteira de trabalho assinada. É cenário de teste para a reforma trabalhista, que na visão de representantes dos trabalhadores vai acirrar o problema, levando a mais informalidade. Na visão da classe patronal, o nível de emprego vai melhorar com a redução de custos. Vamos ver.