A inadimplência do segmento de clientes da indústria química atingiu 85% das empresas amostradas na pesquisa da associação que representa o setor. O resultado equivale a 30% dos valores a receber pelas empresas ouvidas na pesquisa da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).

“Nesse cenário a indústria se preocupa com aprovação de medidas que podem influenciar no fluxo de caixa das empresas, sendo que as indústrias químicas buscam aumentar os prazos de pagamento para os setores clientes visando a manutenção de toda a cadeia”, explica a diretora da Abiquim Fátima Giovanna Coviello Ferreira.

Leia mais:

Pandemia escancara falta de política industrial

Substituição de importações é tímida na pandemia

A Abiquim também pesquisou sobre o acesso às empresas do setor ao crédito. Apenas 33% das empresas consultadas recorreram ao mercado financeiro, sendo que, desse total, 27% não conseguiram acessar as linhas de recursos disponibilizadas.

“As empresas que tiveram acesso negado pelas instituições financeiras apontaram o excesso de burocracia, o aumento de garantias e a elevação dos juros como os motivos para não conseguirem acessar as linhas de crédito”.

Apesar da forte alta do dólar, que poderia estimular as exportações e compensar o declínio nas vendas internas, 33% das empresas informaram que as vendas externas declinaram em relação ao mês anterior e os produtos importados, que se beneficiaram com matéria-prima mais barata, pressionam o mercado interno.

A indústria química brasileira sentiu o baque da disparada de importações em abril. As vendas internas recuaram 36,4% em relação a março, apesar do aumento do consumo de 24%. As importações cresceram 77%, apesar da pandemia.

A diretora de Economia e Estatística da Abiquim explica que apesar da forte alta do dólar, o excesso de produtos químicos no mercado internacional e a queda de preços das matérias-primas derivadas principalmente da nafta geram alta das importações.

“Há um delay de três a seis meses em relação ao preço de alguns energéticos e matérias-primas no Brasil, em relação à cotação no mercado internacional, como o gás natural em abril, as empresas pagavam o gás como referência do Brent a US$ 50/barril, enquanto o mercado internacional precificava entre US$ 20-30/barril”, analisa.

Como o setor não pode desligar as plantas, a média de uso da capacidade instalada foi de 65% em abril. “A maior parte das unidades está operando no mínimo do limite, o que torna os custos unitários de produção mais elevados, piorando o quadro de competitividade do setor”.

A pesquisa realizada pela Abiquim na primeira quinzena de maio, aponta que o resultado do setor para o mês de maio é a manutenção dos índices de produção obtidos em abril.