Quem prestar atenção na origem dos produtos industrializados e dos fármacos que consome no Brasil poderá ter dificuldade em entender o motivo da polêmica criada em torno da vacina chinesa contra o coronavírus.

As importações brasileiras de medicamentos e produtos farmacêuticos da China dispararam 76% neste ano, sob governo de Bolsonaro, o mesmo que tem feito declarações contrárias à vacina e chegou a comemorar a interrupção dos testes.

Com esse resultado, a China se tornou em 2020 o principal fornecedor de remédios e insumos farmacêuticos do Brasil, deixando para trás países como Estados Unidos, Alemanha, Suíça e Índia, tradicionais exportadores.

De maneira geral, a China, que já é o principal fornecedor de produtos importados pelo Brasil desde 2012, aumentou ainda mais a participação nas importações brasileiras neste ano. Mais de um quinto de tudo que compramos do mundo vêm dos chineses, mostram dados da balança comercial disponibilizada pelo Ministério da Economia.

“A gente costuma relacionar produtos chineses, principalmente como herança dos anos 80, a produtos de qualidade inferior mas essa realidade já mudou; faz 30 anos que isso não se verifica mais. É claro que ainda tem muito produto falsificado, claro que a pirataria ainda existe, mas a China hoje compete no mais alto nível de inovação, tecnologia”, afirma à Agência Nossa a especialista Bruna Coelho Jaeger, mestre em Estudos Estratégicos Internacionais pela UFRGS e doutoranda em Economia Política Internacional pela UFRJ.

Já os Estados Unidos, apesar da aproximação ideológica nos dois anos de governo Bolsonaro, perdeu espaço nas compras brasileiras, com 14% das importações.

“No setor de produtos acabados a China é imbatível, como equipamentos para exercício, materiais escolares, bicicletas, artigos de pet e sex shop e até máquinas 3D… Isso acontece porque eles são muito focados em produtos seriados”, avalia o consultor Kleber Fontes, autor de “Sete Passos Para o Sucesso da Importação” e “Exportação Descomplicada”.

Na prática, a enxurrada dos produtos made in China nas lojas de departamentos continua, a despeito da guerra ideológica contra o país comunista nas redes sociais.

A vacina conhecida como Coronavac está sendo produzida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo. E se tornou alvo da disputa entre o presidente e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

Após assinatura de um protocolo de intenções para a compra de 46 milhões de doses da vacina, Bolsonaro desautorizou o ministro da Saúde e disse que não efetuaria a compra. Depois recuou e disse que comprará se a vacina for testada e aprovada pelos órgãos competentes — como é praxe no Brasil, por meio de institutos de renome internacional em imunização, como a Fiocruz.

Reportagem de Ingrid Figueirêdo; coordenação, pauta e edição de Sabrina Lorenzi