Apesar do desemprego ter recuado no último trimestre de 2020, a taxa média anual foi a maior registrada em 8 anos, fechando em 13,5%. De acordo com dados do IBGE divulgados hoje, o número de pessoas ocupadas, que somava 93,4 milhões em 2019, caiu para 86,1 milhões no ano passado.

A taxa de informalidade aumentou em 2020, saindo de 41,1% em 2019 para 38,7% no ano passado. Isso representa 33,3 milhões pessoas sem carteira assinada, sem CNPJ ou sem remuneração.

O desemprego diminuiu em 0,7% do terceiro para o último trimestre de 2020. Adriana Beringuy, analista da pesquisa, explica que essa é uma movimentação natural do mercado:

“O recuo da taxa no fim do ano é um comportamento sazonal por conta do tradicional aumento das contratações temporárias e aumento das vendas do comércio. É interessante notar que mesmo num ano de pandemia, o mercado de trabalho mostrou essa reação.”

Thiago Brandão, pesquisador do Núcleo de Pesquisas e Estudos do Trabalho (NUPET) do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ, destaca que é importante observar também a qualidade do emprego gerado.

Informalidade crescer ainda mais no ano passado. Foto: Agência Brasil

Segundo os dados, houve aumento de 1,8% de pessoas ocupadas com carteira assinada no setor privado, enquanto os empregados sem carteira assinada aumentaram 10,8%. Dentre os trabalhadores domésticos, foram 2.2% a menos de carteiras assinadas, contra um aumento de 9,7% de empregados sem carteira assinada.

“Nós sabemos, a partir das PNADs anteriores, que essa redução da contratação com carteira assinada impacta diretamente um grupo social muito específico, que é o de mulheres e mulheres negras. Elas geralmente trabalham mais e recebem menos”, analisa o pesquisador.

Na virada de ano, especialistas mantinham expectativa de melhora nos índices de emprego e de recuperação da economia a partir da chegada das vacinas para a covid-19 em 2021. No entanto, passados quase 3 meses, as previsões não são mais tão otimistas.

Thiago considera o cenário como “desolador” e diz que o resultado já deveria ser esperado.

“Se a gente for levar em consideração o que Bolsonaro já sinalizava do meio do ano passado pra cá, dava pra ver que esse cenário positivo não iria se concretizar. Ele já mostrava que iria criar dificuldades para a compra e distribuição das vacinas”.

Com a pandemia, a taxa de ocupação no Brasil ficou em 49,4%, mostrando que, pela primeira vez desde o início da série histórica da PNAD Contínua, menos da metade da população em idade para trabalhar estava ocupada no país.

A baixa na ocupação foi registrada em todos os segmentos de trabalho: foram 7,8% a menos de empregados no setor privado com carteira assinada; 16,5% a menos de empregados sem carteira assinada no setor privado; 19,2% a menos de trabalhadores domésticos e 6,2% a menos de trabalhadores por conta própria. Até o número de empregadores diminuiu 8,5%, em relação a 2019.

Entre as atividades econômicas, o segmento mais afetado foi o de serviços, com perda de 21,3% em alojamento e alimentação, e 19% em serviços domésticos. Outros serviços reduziram 13,8% e transportes, 9,4%. Os menores percentuais de queda ficaram com agricultura (2,5%) e informação e comunicação (2,6%). Já a administração pública foi exceção, registrando crescimento de 1%, impulsionado por saúde e educação.

(Reportagem de Ingrid Figueirêdo)