Forte produtor agrícola, o Mato Grosso está adequando sua estrutura para ampliar sua capacidade de análise de moléculas de agrotóxicos, informou à Agência Nossa a Secretaria Estadual de Meio Ambiente do estado.

O laboratório da Sema deve iniciar neste semestre a análise da presença dos defensivos agrícolas glifosato e seu metabólico AMPA. A previsão é que todos os pontos de monitoramento de água superficial do estado sejam monitorados quanto à presença destes compostos.

A secretaria de Saúde do estado informou à Agência Nossa que 30 municípios realizaram o monitoramento em 2019 e 20 municípios no ano de 2020 no âmbito dos serviços de vigilância relacionados ao estado e ao ministério da Saúde. Já para as ações de controle realizadas por concessionárias, foram 41 municípios em 2019 e 40 municípios em 2020.

A pandemia atrapalhou as análises do Mato Grosso e de vários outros estados consultados pela Agência Nossa. As amostras são enviadas para laboratório de referência nacional,  que no caso de Mato Grosso é da Fiocruz.

A Fiocruz suspendeu as atividades por alguns meses por causa de problemas logísticos, segundo a secretaria de Saúde.

“Também houve problema na adesão dos municípios, tendo em vista a situação trazida pela pandemia”, informou a assessoria de imprensa, por e-mail.

Centro-Oeste preocupa Fiocruz 

A  química, doutora em toxicologia e tecnologista do Centro de Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana – CESTEH da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Ana Cristina Simões Rosa, diz que o Centro-Oeste e o Rio Grande do Sul costumam apresentar mais resultados positivos para ocorrência de agrotóxicos da água, “porém não costumam ter altos níveis”.

O estudo “Panorama da Contaminação Ambiental por Agrotóxicos e Nitrato de origem Agrícola no Brasil Cenário 1992/2011”, publicado em 2014, com coautoria de Robson Barizon e Marco Gomes, apontou Mato Grosso como um dos estados que despertava atenção sobre o seu cenário de possível contaminação das águas por agrotóxicos,  por ser parte das regiões que possuem uma agricultura intensiva.

“Com relação às águas subterrâneas na região Centro-Oeste foram consideradas três áreas que, a princípio, apresentaram cenários mais críticos em relação a uma possível situação de risco de contaminação do lençol freático. A primeira delas refere-se às porções de recarga do Aquífero Guarani no chamado Domínio Pedomorfoagroclimático das Nascentes do Araguaia, conforme Gomes et al. (2002), Gomes et al. (2006) e Gomes et al. (2008).

A segunda região, localizada no estado do Mato Grosso, apresentou uma redução entre 40 e 50% dos teores de matéria orgânica dos solos cultivados em relação aos solos virgens, devido ao uso e manejo do solo ao longo de 12 anos nas nascentes do rio Paraguai (Alto Pantanal).

A terceira região localiza-se na porção leste do estado de Mato Grosso, onde Dores et al. (2001) verificaram o potencial de contaminação de águas superficiais e subterrâneas numa área agrícola em Primavera do Leste”, diz o estudo.

O Doutor em Agronomia e Pesquisador de Dinâmica Ambiental de Pesticidas na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Robson Barizon diz que o MT continua sendo afetado atualmente por possuir uma agricultura intensiva.

“Não retiraria nenhum estado do último estudo na atualização que pretendemos fazer. O panorama permanece o mesmo, inclusive acrescentaria mais estados, como os da Matopiba, região agrícola formada pelo Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia”, comunica Barizon.