A Secretaria de Vigilância do Ministério da Saúde está concluindo o processo de revisão da regulamentação que determina quais agrotóxicos devem ser monitorados na água. Por meio de sua assessoria de imprensa, o órgão informou à Agência Nossa que o processo de revisão está na fase final e “a minuta está em análise pela Consultoria Jurídica do Ministério da Saúde”.

Uma série de substâncias não fazem parte atualmente das regras de monitoramento da água potável no País. A Fiocruz, que faz as análises da maioria dos estados brasileiros, busca incluir neste trabalho 79 princípios ativos sobre os quais as secretarias estaduais relatam uso mas não estão na lista de monitoramento do Ministério da Saúde. A portaria que define o monitoramento estabelece análises para 27 substâncias.

Pandemia agrava apagão de dados sobre agrotóxicos na água

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A discussão do padrão de potabilidade de substâncias químicas que representam risco à saúde, com a aceleração na liberação de novas substâncias no Brasil, levou o Ministério da Saúde a revisar a norma que estabelece a obrigatoriedade de análises de agrotóxicos na água potável. A pasta disponibilizou em maio do ano passado para consulta pública a minuta de base para as mudanças.

A análise feita pelo Ministério da Saúde (MS) considerou inicialmente 231 agrotóxicos para monitoramento. Entre os critérios de seleção foram observados “aqueles com uso proibido, os mais elegíveis pela dinâmica ambiental e valores de ingestão diária tolerável”.

Contribuição da Fiocruz

A Fiocruz contribuiu com o processo por meio de um grupo de trabalho e, entre as recomendações, sugere ao MS incluir na lista dos agrotóxicos considerados para avaliação da potabilidade: os proibidos, banidos ou em descontinuidade em seus países de origem; os agrotóxicos mais frequentemente encontrados nas análises do sistema Vigiagua; os mais utilizados nos estados.

Segundo a fundação, vários piretróides vêm sendo detectados em amostras da vigilância, embora não apareçam claramente nos resultados da análise por não estarem cadastrados no sistema de gerenciamento de amostras laboratoriais, utilizado pelas vigilâncias em saúde.

Nos anos de 2018 e 2019 os mais identificados foram: aletrina, ametrina, bifentrina, cialotrina, cifenotrina, ciflutrina, cipermetrina, d-aletrina, fenotrina, fenpropatrina, imiprotrina e permetrina.

Minuta para monitoramento de agrotóxicos na água está concluída. Foto: Pedro França/Agência Senado

A doutora em toxicologia e tecnologista do laboratório da Escola Nacional de Saúde Pública Fiocruz, Ana Cristina Simões Rosada destaca que a classe química dos piretróides costumam ser mais presentes, não por valores altos, mas por estarem em mais amostras analisadas. São exemplos deltametrina, cipermetrina e fenotrina.

A toxicologista explica ainda que a preocupação com esse tipo de substância não é só pelo uso, mas que envolve a capacidade do agrotóxico percorrer e contaminar o solo, contaminar os rios e mananciais.

De acordo com a Fiocruz, os dados fornecidos pelas vigilâncias estaduais demonstram uma grande diversidade de agrotóxicos utilizados, e alguns são indicados para monitoramento pelo menos por três estados diferentes, como: abamectina, acefato, acetamiprido, ametrina, azoxistrobina, beta-ciflutrina, bifentrina, buprofezina, captan, carbendazim, carbossulfan, cipermetrina, ciproconazol, clomazona, clorotalonil, deltametrina, difenoconazol, dimetoato, epoxiconazol, fipronil, imidacloprida, lambda-cialotrina, metomil, paraquate, picloram, piraclostrobina, tebuconazol, tiametoxan, tiofonato metílico, trifloxistrobina. Desses, clorotalonil, tiametoxan, picloram, abamectina, azoxistrobina, metomil, epoxiconazol, ciproconazol, ametrina, fipronil foram inseridos na revisão da portaria, e o carbendazim e tebuconazol já estavam listados.