Resultados do programa de monitoramento do Ministério da Saúde apontam que o Rio Grande do Sul apresenta o melhor índice de vigilância de agrotóxicos na água entre os estados brasileiros.

“O Programa Vigiagua está implantado em todos os 497 municípios do RS, com pelo menos um profissional do setor saúde no território desenvolvendo as ações básicas, além dos projetos e planos de vigilância. Em relação à divulgação dos resultados, os dados são inseridos na plataforma oficial do Vigiagua, o Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água Para Consumo Humano (Sisagua), conforme o modelo disponível pelo Ministério da Saúde”, informa a Secretaria.

O órgão responsável pela saúde no maior estado gaúcho relata que, desde 2015, o Rio Grande do Sul, por meio do Programa Vigiagua, planeja e executa o Plano de Monitoramento de Resíduos de Agrotóxicos em Água Para Consumo Humano, em parceria com o Ministério da Saúde, Coordenadorias Regionais de Saúde, municípios, LACENs e demais laboratórios de referência do setor saúde no Brasil. A ampliação das referidas análises foi incluída como meta no Plano Estadual de Saúde (PES) e no Plano Plurianual (PPA) do estado.

“Também com periodicidade semestral, de acordo com a Portaria de Consolidação MS/GM n°05/2017, Anexo XX, a responsável pelo sistema ou solução alternativa de abastecimento deve avaliar a qualidade da água bruta e tratada para os 27 parâmetros de agrotóxicos definidos na portaria. Adicionalmente, devem também atender à Portaria Estadual SES n°320/2014, com a análise de mais 46 parâmetros”, declara a Secretaria de Saúde.

Fiocruz analisa amostras gaúchas

A  química, doutora em toxicologia e tecnologista do Centro de Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana – CESTEH da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Ana Cristina Simões Rosa, quando questionada sobre quais seriam os estados que mais preocupam o laboratório em relação aos índices de contaminação, diz que o Centro-Oeste e o Rio Grande do Sul costumam apresentar mais resultados positivos, porém não costumam ter altos níveis.

A doutora em toxicologia menciona ainda que o laboratório da Fiocruz, local que o RS encaminha suas amostras, passou a receber e analisar índices de outros estados brasileiros depois que um equipamento utilizado pelo Instituto Evandro Chagas, laboratório de referência na realização das análises de agrotóxicos e emissões dos seus respectivos laudos, teve problemas técnicos e não conseguiu atender mais às demandas.

“Antes da quebra do equipamento a gente analisava as amostras do Rio Grande do Sul, do Rio de Janeiro, do Piauí, do Maranhão, do Sergipe, da Paraíba, de Alagoas, do Mato Grosso, do Mato Grosso do Sul, do Distrito Federal, do Rio Grande do Norte, de Pernambuco, do Paraná e de Goiás. Eram 13 estados mais o DF. Agora pedimos aos estados que estimem cerca de 150 amostras por ano cada”, expõe.

Estado preocupa pesquisadores

O estudo “Panorama da Contaminação Ambiental por Agrotóxicos e Nitrato de origem Agrícola no Brasil Cenário 1992/2011”, publicado em 2014 pelos pesquisadores Robson Barizon e Marco Gomes, apontou o Rio Grande do Sul como um dos estados que despertava atenção sobre o seu cenário de possível contaminação das águas por agrotóxicos,  por ser parte das regiões que possuem uma agricultura intensiva.

“No estado do Rio Grande do Sul, estudos (..) têm mostrado a presença de glifosato em lavouras de arroz irrigado com água proveniente da Lagoa Mirim em concentrações acima do valor máximo permitido pela Agência de Proteção Ambiental Americana (USEPA). Outras regiões orizícolas da região sul também têm apresentado resíduos de agrotóxicos em seus mananciais. Para Silva et al. (2011), em todas as regiões orizícolas do Sul do Brasil verifica-se a presença de ao menos um agrotóxico ocorrente em águas subterrâneas”.

Co-autor do estudo, a doutor em Agronomia e Pesquisador de Dinâmica Ambiental de Pesticidas na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Robson Barizon diz que o RS continua sendo afetado por possuir uma agricultura intensiva.

“Não retiraria nenhum estado do último estudo na atualização que pretendemos fazer. O panorama permanece o mesmo”.