Do total de 1.737 casos de intoxicação por pesticidas registrados em Goiás de 2017 a 2020, 787 (45%) foram relatados em circunstância de tentativa de suicídio; 513 (30%) no âmbito de acidente ocupacional; 403 (23%) em casos de acidente individual; e 34 (2%) por outras circunstâncias.

“Os pesticidas são utilizados em larga escala pelo setor agropecuário e, em decorrência do seu uso indiscriminado, acarretam uma série de agravos. As intoxicações por agrotóxicos representam um dos maiores problemas de saúde pública no Brasil. No Estado de Goiás, cuja economia é predominantemente agrícola, há ocorrência de intoxicações por estes produtos”, relata a secretaria de saúde do estado.

As declarações reforçam conclusões do estudo “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia” da Doutora em Geografia Larissa Mies Bombardi, da USP. Publicado em 2017, a ampla pesquisa mostra que o estado de Goiás registrou 893 pessoas intoxicadas por agrotóxicos de uso agrícola, entre 2007 e 2014. O total representava metade dos registros em toda a região Centro Oeste, com 1785 casos.

Em relação aos números nacionais, Goiás ficou em 8º lugar, atrás apenas do Paraná (3723), de Minas Gerais (2186), de São Paulo (2055), de Pernambuco (1545), de Santa Catarina (1323), do Ceará (1086) e do Espírito Santo (1066).

“Em relação às tentativas de suicídio, como se trata de intoxicação de maior gravidade devido à via de exposição e ingestão de grande volume do pesticida, os pacientes necessitam em sua grande maioria de internação em unidades de saúde. Além dos gastos com internação, medicamentos e exames, deve-se considerar também os gastos com o tratamento das possíveis sequelas”, lembra a secretaria de Saúde.

A cronicidade de exposição aos pesticidas está relacionada ao uso ocupacional. Os trabalhadores que manuseiam agrotóxicos em sua atividade de trabalho são mais susceptíveis a esse tipo de efeito.

Foto: Divulgação/Idaf

Agrodefesa afirma que GO respeita limites

A Agência Goiana de Defesa Agropecuária do governo do estado afirma que os níveis de agrotóxicos estão dentro dos padrões estabelecidos pelas autoridades brasileiras.

“Até onde tivemos acesso e de acordo com relatórios da Saneago (empresa de saneamento), as quantidades de princípios ativos encontradas estão dentro dos limites permitidos no País”, afirma o coordenador de fiscalização de agrotóxicos da Agrodefesa, Rodrigo Baiocchi Lousa.

Segundo ele, o estado de Goiás acompanha adequadamente o nível de agrotóxicos na água, a despeito da falta de informações de seus municípios apontada pelo Sisagua, sistema de monitoramento de qualidade do Ministério da Saúde.

“Desde 2016, com a publicação da Lei Estadual 19.423, a Agrodefesa fiscaliza as distâncias mínimas de aplicação definidas pela Lei, o que pode inibir aplicações que gerem deriva e lixiviação até rios e lençol freático”, afirmou.

Centro-Oeste preocupa Fiocruz 

A  química, doutora em toxicologia e tecnologista do Centro de Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana – CESTEH da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Ana Cristina Simões Rosa, quando questionada sobre quais seriam os estados que mais preocupam o laboratório em relação aos índices de contaminação, diz que o Centro-Oeste e o Rio Grande do Sul costumam apresentar mais resultados positivos, porém não costumam ter altos níveis.

A doutora em toxicologia menciona ainda que o laboratório da Fiocruz, local que Goiás encaminha suas amostras, passou a receber e analisar índices de outros estados brasileiros depois que um equipamento utilizado pelo Instituto Evandro Chagas, laboratório de referência na realização das análises de agrotóxicos e emissões dos seus respectivos laudos, teve problemas técnicos e não conseguiu atender mais às demandas.

“Antes da quebra do equipamento a gente analisava as amostras de Goiás, do Mato Grosso, do Mato Grosso do Sul, do Distrito Federal, do Rio Grande do Sul, do Rio de Janeiro, do Piauí, do Maranhão, do Sergipe, da Paraíba, de Alagoas, do Rio Grande do Norte, de Pernambuco e do Paraná. Eram 13 estados mais o DF. Agora pedimos aos estados que estimem cerca de 150 amostras por ano cada”, expõe.