Com salário 15% menor que a renda recebida por homens, mulheres brasileiras enfrentam barreiras na contratação de empregadores preocupados com os efeitos da gravidez e da maternidade na produtividade. No dia do trabalho, a Agência Nossa procurou mulheres que sentem no bolso os efeitos da desigualdade e da discriminação.

O caso da contadora Renata Santana foi além. Ela conta como seus planos chegaram a ser interrompidos em um trabalho anterior por conta de assédio.

“Teve um fato que me atrapalhou bastante na carreira. Sempre quis trabalhar no setor financeiro e em uma instituição financeira, e enfim consegui um estágio em um banco. O gerente me fez aquela “oferta” para uma possível efetivação. Acabou com meus planos e vontade de seguir em frente e saí do banco no final do estágio”, revelou.

Renata, que trabalha no setor financeiro de uma construtora brasileira em Cornélio Procópio, no Paraná, diz que se sente desmotivada pelo fato de não ser reconhecida de maneira igual, mesmo tendo igual ou maior capacitação que um homem.

Na AL, 25 milhões de mulheres lutam para voltar ao mercado de trabalho. Foto: OIT

“É muito desanimador como mulher saber que maioria das vezes somos muito mais capacitadas que os homens e ganhamos menos somente pelo fato de sermos mulheres. Isso quando nós somos contratadas, porque muitas empresas não contratam mulheres pelo fato de engravidar ou por ser ‘mulher’ . Eu me sinto muito desmotivada pela sociedade e com medo de apesar de toda minha formação que eu busco, todo conhecimento que eu adquiro eu não seja reconhecida.”

As mulheres brasileiras recebem cerca de efetivamente, em média, R$348 menos que os homens brasileiros, segundo levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD COVID-19. O salário dos homens, em média, é de R$2.266 enquanto o das mulheres R$1.918.

Mariah Lima trabalha com educação, no mundo corporativo e no voluntariado. Ela conta que sente que, por ser mulher, automaticamente, é necessário que ela sempre vá além, mesmo sabendo que o reconhecimento virá somente em parte.

“Homens terem salários mais altos que mulheres é mais um dos tantos recortes do machismo e do patriarcado. Já tive momentos de desânimo frente a esse fato, mas me concentro para tirar dele forças pra continuar nossa luta, por mim e por todas. E a luta é árdua: temos que nos superar, denunciar os abusos e buscar a tão sonhada equidade.”

Desigualdades regionais

Em relação aos últimos levantamentos mensais de ganhos de cada região do país, as mulheres nordestinas e nortistas foram as que conseguiram os menores valores, chegando a serem menores que a média nacional. As mulheres nordestinas receberam em média R$1.542, o menor entre todas as cinco regiões brasileiras, e as mulheres nortistas receberam em média R$1.594.

Já as mulheres do Sudeste, Sul e Centro-oeste receberam mais do que a média nacional, sendo em média o ganho mensal de, respectivamente, R$2.188, R$2.076 e R$2.199.

A maior desigualdade salarial entre ganhos de mulheres e homens ficou na região sul do Brasil, com uma diferença de R$572 a menos para as trabalhadoras do sexo feminino. Os homens receberam em média R$2.648 enquanto as mulheres faturaram R$2.076.

AL

Cerca de 25 milhões de mulheres estão desempregadas ou fora do mercado de trabalho da América Latina, de acordo com levantamento da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Destas, 13 milhões viram seus empregos desaparecer no ano passado, fortemente afetado pela pandemia.