O aumento do desemprego no primeiro trimestre deste ano deverá se repetir nos meses seguintes devido principalmente à lentidão da vacinação no Brasil. A taxa avançou de 13,9% no último trimestre do ano passado para para 14,7% entre janeiro e março deste ano, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Mais 880 mil pessoas entraram na fila por emprego, engrossando a lista de desempregados. É a maior quantidade de pessoas sem trabalho desde o começo da série histórica iniciada em 2012.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada nesta quinta-feira, mostrou que a pressão sobre a taxa partiu principalmente do Norte e do Nordeste. A média dos estados nordestinos já atinge 18,6%.

“O desemprego tem muito a ver com o mal funcionamento da economia. E a economia não vai voltar a funcionar sem o País ter a população vacinada”, afirma o pesquisador e coordenador do Monitor do PIB, calculado pelo Ibre, Claudio Considera, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Considera faz coro a vários outros economistas, inclusive o ministro Paulo Guedes, que também defende a vacinação em massa.

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Considera destaca que o setor de serviços, que representa cerca de 70% do PIB, tem sofrido mais com a pandemia. De fato, os dados da Pnad revelam que os segmentos que perderam participação na população ocupada foram os de comércio, serviços domésticos, transportes e alimentação. Ao contrário do que houve na agricultura, na indústria e na construção civil, que viram a parcela de empregados aumentar.

“Toda a parte de serviços é muito dependente de pessoas trabalhando e pessoas consumindo. Então, comércio, shopping center, se tiver fechado não tem vendedor, se tiver aberto pode ter ou não comprador. Tem outros serviços, como os de hotelaria, alimentação fora da residência, bar e restaurante que também estão mal. Todas essas coisas dependem da interação entre as pessoas”.

Considera ressalta que a única solução para o Brasil agora é uma rápida imunização.

Mais 880 mil pessoas entraram na fila do emprego. Foto: Jader Paes/Agência Pará

“A vacinação é o que o governo deveria concentrar todos os seus esforços, no sentido de vacinar 70% da população o mais rápido possível. Nós temos 20% vacinados, mas só 10% totalmente imunizados, ou seja, nem todos tomaram a 2ª dose. Isso é muito pouco, não cria uma imunidade coletiva, que poderia ser criada com mais gente vacinada. Então é por isso que eu falo: sem a vacinação não tem solução”.

O professor do Insper Thomas Conti, doutor em economia, também relaciona a retomada econômica à vacinação.

“Em 2020, economia foi determinada por quão bem cada país coordenou combate ao Covid. Em 2021, economia dependerá de quão bem cada país coordenar programa de vacinação. O sucesso do resto do mundo ajudará na recuperação, mas situação econômica aqui é mais grave. Não pode falhar”, afirmou ele em uma rede social.

Governo travou produção de vacina

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou nesta quinta-feira, em depoimento à CPI da Pandemia, que fez a primeira oferta de vacinas contra a COVID-19 ao Ministério da Saúde em 30 de julho de 2020, mas ficou sem resposta durante meses. As 60 milhões de doses seriam entregues no último trimestre do ano passado.

Segundo ele, o Brasil poderia ter sido o primeiro no mundo a iniciar a vacinação “se todos os atores” tivessem colaborado. Covas disse que as manifestações do presidente Jair Bolsonaro contra a vacina deixaram as negociações “em suspenso” e atrasaram o começo da vacinação no País.

“O mundo começou a vacinar no dia 8 de dezembro. O Brasil poderia ter sido o primeiro País do mundo a iniciar a vacinação, se não fossem esses percalços, tanto contratuais como de regulamentação”, disse o diretor do Butantan.

Desemprego maior entre mulheres e pretos

A taxa de desocupação entre os brancos (11,9%), no primeiro trimestre de 2021, ficou abaixo da média nacional (14,7%), enquanto a dos pretos (18,6%) e pardos (16,9%) ficou acima. Para Beringuy, os números são reflexo de um problema estrutural no País.

“No primeiro trimestre de 2012, a taxa de desocupação da pessoa parda era 37,9% maior do que a de uma pessoa branca. Essa diferença, no primeiro trimestre de 2021, é de 42%. A pesquisa já registrou diferença superior a essa. Em relação à população de cor preta, a diferença é maior. A taxa de desocupação de uma pessoa preta é 56,3% maior do que a de uma pessoa branca. Assim como a da população parda, essa não é a maior diferença registrada. A maior foi no ano passado, no auge da pandemia. É um problema estrutural”.

Edição de Sabrina Lorenzi