A bolsa brasileira possui atualmente 70 índices, dos quais oito pertencem à temática ESG – sigla em inglês do conjunto de práticas ambientais, sociais e de governança corporativa.

O Índice S&P/B3 Brasil ESG, cuja metodologia resulta da provedora S&P Dow Jones Índices, é o índice que atualmente se concentra mais nos três pilares, sem considerar questões monetárias.

O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), o Índice Carbono Eficiente (ICO2), ambos da B3, sâo mais relacionados, pelo mercado ao pilar ambiental, embora o ISE também contemple os outros dois pilares do ESG.

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Na categoria governança, a bolsa brasileira conta com quatro índices também da autoria da B3, são eles: Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada (IGC); Índice de Ações com Tag Along Diferenciado (ITAG); Índice de Governança Corporativa Trade (IGCT) e Índice de Governança Corporativa – Novo Mercado (IGC-NM).

Já o pilar social acaba de ser contemplado com seu primeiro índice. A B3 anunciou no dia 19 de outubro o lançamento do Índice GPTW B3, que reúne as ações das empresas consideradas as melhores empresas para trabalhar. O indicador é realizado em parceria com a consultoria global Great Place to Work. A primeira carteira do índice será divulgada em janeiro de 2022, 33 companhias devem fazer parte.

A seguir abordamos quatro índices apontados como os principais indicadores do universo ESG por especialistas.

 

O Índice S&P/B3 Brasil ESG contempla na sua avaliação as notas das companhias de capital aberto nos pilares social, ambiental e de governança. Diferentemente de outros índices, este não leva em conta a liquidez das ações ou o valor de mercado das ações em circulação das companhias para atribuir os pesos.

Para chegar à carteira de ativos do índice S&P/B3 Brasil ESG, o diretor sênior da S&P Dow Jones Índices na América Latina, Paulo Sampaio, explica que ocorre uma exclusão daquelas que não cumprem os princípios do Pacto Global das Nações Unidas e que não contam com uma pontuação definida pela S&P Dow Jones Índices (S&P DJI). 

Mas como é calculada a pontuação? A S&P DJI verifica quais das 162 companhias possuem uma avaliação ESG feita pela provedora, também conhecida como CSA (Avaliação de Sustentabilidade Corporativa)

Aquelas que passarem na avaliação, passam por um novo processo, desta vez olhando setores considerados controversos pela S&P, entre estes companhias envolvidas em atividades comerciais como armas; produção, venda e distribuição de tabaco; extração de carvão térmico e geração de energia por meio de carvão térmico, todas elas são automaticamente excluídas do índice. 

“Suponhamos que sejam 150 empresas que possuem uma avaliação ESG. Então destas 150, quem é que é fabricante de tabaco, armamentos? Digamos que são mais 10, então retira essas 10. Quem tem o seu processo produtivo majoritariamente com uso de carvão? Mais 20, tira essas 20”, explica Sampaio. 

Uma vez definidas as 131 empresas, estas são ranqueadas pelo score ESG de cada uma. 

Cada pilar do ESG tem um peso diferente adaptado aos diversos setores e atividades desempenhadas pelas companhias. 

Critérios para cada setor 

De acordo com Sampaio, as notas ESG do índice respeitam a particularidade de cada setor, por este motivo não existe um peso médio ou padrão para o pilar social, ambiental ou de governança. Estas variam para cada segmento e de acordo com a atividade desempenhada pelas companhias. 

No setor financeiro, por exemplo, Sampaio explica que a questão ambiental tem baixo impacto. O motivo é que nas atividades financeiras o esforço principal é a questão da governança, garantir o sigilo das informações dos clientes, evitar vazamentos, segurança na hora das transações. 

Em consequência, no setor financeiro o pilar ambiental tem um peso de 13%, enquanto a governança tem um peso de 55%, já o pilar social tem um peso de 32%. 

Já no setor elétrico a dinâmica é oposta, o pilar ambiental tem um peso maior porque é um setor com impacto direto no meio ambiente, defende Sampaio. Então, no setor elétrico o pilar ambiental pesa 39%, o social 29% e a governança tem o peso de 32%. 

Para o setor de varejo, como é o caso das Lojas Renner, o meio ambiente tem um peso de 22%, a governança 50% e o social 28%. “É um perfil mais parecido com o setor financeiro ou o setor de serviços”, afirma ele.

Índice Carbono Eficiente

O Índice Carbono Eficiente da B3 (ICO2 B3) foi criado para ser um instrumento indutor das discussões sobre mudança do clima no Brasil.

Segundo a B3, formuladora do índice, a adesão das companhias ao ICO2 demonstra o comprometimento com a transparência de suas emissões e antecipa a visão de como estão se preparando para uma economia de baixo carbono.

De 2010 a 2019, eram convidadas para participar do processo as companhias detentoras das 50 ações mais negociadas da bolsa, integrantes do IBrX 50. Em 2020, em um processo de revisão da metodologia, considerando tendências e movimentos mundiais na temática, a B3 passou a convidar as companhias do IBrX 100, das cem ações mais negociadas, para composição das carteiras a partir de 2021.

Para participar do índice, as empresas precisam produzir inventários de emissão de gases de efeito estufa.

O objetivo do índice é ser o indicador do desempenho médio das cotações de ativos pertencentes à carteira do IBrX 100, levando em consideração as emissões de gases de efeito estufa (GEE) das empresas.

O peso das empresas na carteira do ICO2 B3 é distribuído de acordo com o valor de mercado do free float (ativos que se encontram em circulação) da empresa, ajustado por um coeficiente de eficiência (Emissão de GEE/Receita).

Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada (IGC)

O objetivo do IGC é ser o indicador do desempenho médio das cotações dos ativos de empresas listadas no Novo Mercado ou nos Níveis 1 ou 2 da B3, que exigem práticas de governança corporativa.

No Novo Mercado, por exemplo, as empresas listadas podem ter apenas ações ordinárias, com direito a voto. As companhias deste segmento devem manter no mínimo 25% de suas ações em livre circulação de mercado  ou 15% em caso de um volume de negociação diária superior a R$ 25 milhões.

Além disso, as companhias que integram o Novo Mercado devem ter no mínimo 2 conselheiros independentes ou 20% dos membros do conselho (o que for maior) com mandato de no máximo dois anos no Conselho de Administração.

Estas companhias têm a obrigação de divulgar em português e inglês seus fatos relevantes, informações sobre proventos (lucros distribuídos aos acionistas) e press releases de resultados.

Entre os documentos que também devem ser divulgados amplamente estão: políticas de remuneração, indicação de membros do conselho de administração, comitês de assessoramento e diretoria estatutária. Além de políticas de gerenciamento de riscos, transações de partes relacionadas e negociação de valores mobiliários.

Outro requisito é ter presença contínua das suas ações no pregão. 

 O peso das empresas na carteira do IGC B3 é distribuído de acordo com o valor de mercado dos ativos que se encontram em circulação da companhia, multiplicado por um fator de governança. Esse fator será igual a 2 para os ativos do Novo Mercado, 1,5 para os ativos do Nível 2 e 1 para os ativos do Nível 1.

Índice de Sustentabilidade Empresarial

O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) tem por objetivo refletir o retorno de uma carteira composta de ações de empresas com reconhecido comprometimento com o desenvolvimento sustentável, práticas e alinhamento estratégico com a sustentabilidade.

Criado em 2005 pela B3, o ISE passa atualmente por uma das mais importantes reformulações para, segundo a B3, garantir maior transparência aos investidores. A nova carteira do ISE B3, que será divulgada ainda em dezembro deste ano, deve seguir uma nova metodologia e entrará em vigência em janeiro de 2022. 

A carteira vigente atualmente, de janeiro a dezembro de 2021, ainda segue a antiga metodologia do índice. Pelos critérios atuais, são elegíveis empresas detentoras das 200 ações mais líquidas da bolsa e que adotam boas práticas ambientais, sociais e de governança, entre outros requisitos.

As empresas são solicitadas a preencher um questionário que  é o mesmo para todas as empresas, exceto na dimensão ambiental, dividida em grupos de acordo com o tipo de atividade e segmento que a companhia integra. Existe um questionário específico nesta dimensão para as instituições financeiras. 

O questionário atual, que será substituído com a nova metodologia é formado por sete dimensões: Geral; Natureza do Produto; Governança Corporativa; Econômico Financeira; Ambiental; Social e a dimensão de Mudanças Climáticas. Cada dimensão pode ser desdobrada em critérios e temas específicos. 

A dimensão Geral tem como propósito identificar de que forma a sustentabilidade está incorporada nos modelos de negócio da companhia e em suas perspectivas futuras. Esta dimensão inclui quatro temas principais. 

A dimensão Natureza do Produto tem como objetivo identificar como as empresas atuam para reduzir os riscos da dependência de consumo de bens e serviços, que sejam incompatíveis com práticas sustentáveis. Esta dimensão conta cinco temas principais.  

A dimensão de Governança Corporativa tem seis temas principais. 

A dimensão Econômico – Financeira tem cinco temas principais. 

A dimensão Ambiental busca identificar a medida em que uma companhia possui uma gestão ambiental estruturada, consistente e coerente com suas operações, além de alinhada com as melhores práticas corporativas. Esta dimensão considera sete temas principais.  

A dimensão Social conta com cinco temas principais, entre estes: 1) condições de trabalho, 2) respeito aos direitos humanos e direitos do consumidor; 3) valorização da diversidade e combate à discriminação; 4) atuação responsável e positiva em cadeias de suprimentos e em territórios ou comunidades influenciados pela companhia, 5) relações éticas e práticas de transparência e diálogo com as partes interessadas. 

*Esta reportagem faz parte da série Contradições do ESG, que pode ser republicada desde que citando-se créditos dos autores e da Agência Nossa, nos termos e condições da licença Creative Commons de compartilhamento e uso não comercial.