Enquanto o principal índice ESG da B3, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) passa por um processo de reformulação – a nova metodologia entra em vigor em 2022 – um outro índice ganha espaço entre as instituições financeiras e investidores como benchmark quando o assunto são os três pilares ESG — boas práticas no âmbito da sustentabilidade, governança corporativa e o social.

Produzido pela provedora S&P Dow Jones Indices, o índice S&P/B3 Brasil ESG, que chegou ao mercado em setembro de 2020, é composto por uma carteira de 131 ativos.

O índice não considera a liquidez das ações e nem a capitalização das empresas para fazer a avaliação e atribuir o peso a elas. Desta forma, a classificação do S&P/B3 Brasil ESG é baseada exclusivamente nos pilares sociais, ambientais e de governança, o que leva o diretor da S&P Paulo Sampaio a chamá-lo de “índice sangue puro”.  

Leia mais nesta série de reportagens: Conheça os principais índices ESG

Por este índice, cada um dos três critérios – social, ambiental e de governança – é calculado de forma separada. E cada pilar tem um peso diferente dependendo do setor. 

Por outro lado, as questões são consideradas globalmente e isso pode tornar menos importantes pontos relevantes no Brasil.

Outra questão levantada por analistas como um possível problema é que a carteira dos 131 ativos não é pública para o investidor pessoa física no site da B3,  nem no da S&P. É aberta por clientes institucionais (fundos ou instituições financeiras) que decidam pagar pelo licenciamento. 

Para entender melhor a metodologia do índice S&P/B3 Brasil ESG, a Agência Nossa entrevistou Paulo Sampaio, diretor sênior da S&P Dow Jones Índices na América Latina. 

Agência Nossa- Não é possível encontrar a carteira completa do índice S&P/B3 Brasil ESG no site da S&P. Esta carteira é pública? Não seria o ideal para garantir a transparência com o investidor pessoa física?

Paulo Sampaio: A S&P Dow Jones é uma empresa que só faz índice, a única coisa que a gente faz é calcular índice. São 700 mil índices por dia calculados cobrindo 70 mercados no mundo. Então a gente, como provedora de índice, se remunera através do licenciamento desses índices para produtos financeiros, ETFs, produtos estruturados, fundos indexados, produtos passivos, que seguem um índice. E também pelo licenciamento da base de dados desses índices. 

Então essas informações referentes a carteira de índice são informações restritas aos assinantes do índice. 

Nós licenciamos a esse índice para uma instituição financeira, um asset management, um banco de investimentos, fazer um produto em cima dele e cabe a ele então utilizar essa informação para efeito de avaliação dos scores ESG. 

Podemos considerar como um exemplo de licenciamento para instituições financeiras o Banco BTG que utilizou o Índice S&P/B3 Brasil ESG como benchmark para criar o ETF ESGB11?

Na verdade, o BTG licenciou o índice para o produto ETF. Ele tem a licença para usar a marca do índice, utilizar a marca da S&P, a marca da B3, ele usa o índice nesse formato. 

O produto está vinculado ao índice, o ETF persegue o desempenho do índice e esse índice é representado por uma composição de carteira das empresas e com as avaliações ESG.

O grande diferencial, que eu acho que é importante que fique claro, é que esse índice é puramente baseado nos critérios ESG. 

Então assim, quando a gente pega o universo Brasil, tem o índice S&P Brazil BMI, o mais amplo que S&P calcula no País. O índice abrange entre 161 e 162 empresas listadas no mercado da B3. Então a gente tem o índice mais amplo que a gente utiliza.

 A partir desse índice, dessa carteira de empresas, a gente vai fazendo os cortes necessários. Por exemplo, a gente quer ver o índice de dividendos, a gente vai pegar, dessas 161 empresas, que são seu universo principal, a gente vai pegar as empresas que pagam dividendos constantemente nos últimos 3 anos.

 A gente quer olhar as empresas Small Caps: então a gente estipula qual o patamar de small cap e então a gente aplica sobre esse universo de 161 empresas. 

No caso do ESG é a mesma coisa, a gente pega essas 161 empresas, verifica quais dessas empresas possuem uma avaliação ESG feita pela S&P que é o CSA (Avaliação de Sustentabilidade Corporativa), que aparece ainda com (características da) SAM.

A SAM faz parte da RobecoSAM, um asset management que desenvolveu uma plataforma em que todos seus investimentos dos fundos seriam direcionados por aspectos de sustentabilidade. Foram pioneiros nessa questão e a gente se associou a RobecoSAM, 21 anos atrás, quando criamos o Dow Jones Sustainability Indices (DJSI), foi o primeiro índice de sustentabilidade que a gente criou, primeiro índice ESG, que era calculado com base nas informações coletadas pela SAM. 

No ano passado entre janeiro e fevereiro de 2020, a SAM, essa atividade do CSA foi comprada pela S&P.

Excluídos do ESG

Então voltando ao nosso índice Brasil ESG, a gente pega o universo de 161 empresas do Brazil BMI. Aí vamos ver:  quais são as empresas que possuem um score ESG? Digamos que sejam 150 empresas que possuem uma avaliação ESG feita pela antiga equipe SAM.

Dessas 150 quem é fabricante de tabaco? Quem é fabricante de armamentos? digamos que sejam mais 10. Tiram essas 10. Quem é que tem seu processo produtivo majoritariamente em cima de carvão? Mais 20, tira essas 20, entendeu? 

Então sobra o universo de 131 empresas, no final do processo de exclusão sobraram 131 e a gente ranqueia pelo escore ESG de cada uma delas. 

Então se a gente pega o Bradesco hoje, dentro do índice, é a empresa com maior nota ESG: de 0 a 100 tem nota 97. O Banco do Brasil 96, Renner e Itaú 94 e por aí vai… então a gente vai ranqueando o peso das empresas pela nota ESG de cada uma delas.

Então é um índice puramente ESG, que a gente chama de sangue puro, ele não tem critério de capitalização, o critério dele é ESG, notas ESG. 

 A gente ranqueia do 1 até o 131 ou seja até o último, o último é quem tem a menor nota. É a empresa com a menor avaliação ESG. 

Qual é a empresa que está na posição 131? 

Posso, posso citar. Na verdade, essa não é uma informação relevante. Porque eu posso dizer para você que a última, em termos de pontuação, é a companhia de saneamento de Minas Gerais. 

Mas isso não quer dizer muita coisa porque assim, a empresa pode ter feito uma avaliação ESG, porque pode ser primeiro ano que ela está fazendo uma avaliação ESG, pode ser que não tenha apresentado todos os documentos, não tenha respondido todas as perguntas… 

Tem mil motivos para ela ter recebido uma nota baixa, mas obviamente se a nota dela é a mais baixa tem um peso muito menor no índice. 

No ano passado a gente teve uma exclusão do índice, que foi o Atacadão (Carrefour), mas ele tinha uma nota muito baixa, um peso muito baixo no índice, então o objetivo no índice é que a empresa ao longo dos anos elas tenham uma melhoria nas suas políticas de sustentabilidade para que tenham um maior peso no índice.

Objetivo é melhorar a nota

Essa é a grande busca das empresas num índice desse tipo, porque obviamente se elas têm uma avaliação de sustentabilidade melhor que outras ela tem acesso a crédito mais barato ela tem investidores mais interessados em investir nelas do que em outros e por aí vaí. 

Tem mil justificativas para dizer que as empresas têm interesse em ter uma avaliação em ESG melhor possível. O importante na nossa visão não é o fato da  empresa ter a nota 50 esse ano. Para a gente o importante é que se ela teve 50 este ano,  no próximo ano ela vai tentar, se esforçar para  ter um peso maior, que suba para 56,60,70, enfim qual o esforço que ela vai fazer para ter uma avaliação melhor, mais condizente com um peso maior no índice. 

A metodologia do índice  privilegia as empresas mais bem ranqueadas  na sustentabilidade terão um peso maior e as empresas menos sustentáveis com notas mais baixas vão ter pesos mais baixos porém se espera que ao longo dos anos elas melhorem as suas posições.

Essa é a lógica por trás da metodologia.

Essas 131 ações componentes do índice permanecem nesse número? Porque vocês tem rebalanceamento todo mês de abril. E tiraram o Atacadão/Carrefour por conta do assassinato de um homem negro em uma de suas unidades, correto?

Isso, na época isso foi informado por um press release, a saída. O que acontece é que a gente tem um sistema de acompanhamento diário das empresas. 

Então uma situação como essa que ocorreu, lembro que a imprensa questionou muito que deveríamos ter tirado a empresa do índice no mesmo dia, mas não é assim, é um processo. 

Eu faço uma investigação para dar uma oportunidade para a empresa se explicar, dizer o quê que aconteceu, mostrar que ela tem práticas que evitem aquela situação e se essas práticas foram aplicadas ou não e aí tem uma decisão.

Qual o peso do pilar social no índice S&P/B3 Brasil ESG? Tem um peso médio? 

Então, a gente tem uma metodologia que acho que é um grande diferencial. 

A gente trata de forma diferente os setores que são diferentes de fato. 

No setor financeiro, por exemplo, a questão ambiental tem baixo impacto, porque setor financeiro é setor de serviços, ou seja, a atividade financeira tem pouco impacto ambiental o peso na dimensão ambiental na nota final de uma instituição financeira é mais baixo, é uns 13% por exemplo. No caso da instituição financeira qual a principal virtude que uma instituição financeira precisa ter? É a questão da governança. A governança tem que ser algo que garanta que haja sigilo sobre as informações dos clientes, que não haja vazamento de informações, segurança das informações, das transações… Então a governança tem peso de 55% e o social tem um peso de 32%. 

Se a gente for para o setor elétrico, por exemplo, que é o outro lado da moeda, tem 39% de peso no setor ambiental porque é um setor que tem um impacto ambiental. Social tem 29% e governança tem 32%. Então já tem uma distribuição um pouco mais igualitária. 

Então assim, se a gente for olhar setor por setor, cada um deles tem uma distribuição de pesos diferenciados de acordo com o impacto de cada uma delas no Score final da empresa. 

Peso do social nos serviços é maior

Mas a questão social, se a gente olhar, por exemplo, o setor de atacado, no caso as Lojas Renner. O meio ambiente tem 22%, governança tem 50% e social tem 28%. Então, isso já tem uma cara mais parecida com o setor financeiro, com a área de serviços. 

Eu posso até ver se a gente teria uma medida pra dizer para você qual é a média do peso… Mas assim, é um cálculo difícil porque cada empresa tem um peso dentro do índice. Então a parte social do fundo também tem um peso diferente. 

O índice ESG também leva em conta questões do Pacto Global. Os ODS 1 e 2, de erradicação da pobreza e combate à fome, são abordados no índice?

Essa é uma resposta que eu vou te dar bem superficialmente. Não é a minha área de conhecimento (…) O que eu posso te dizer é que grande parte do que a gente vê aí pelos resultados é que já, pelo menos em quatro anos, existem coberturas praticamente para todos os 17 ODS, os objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. 

Agora os pontos que a gente percebe como pontos principais estão relacionados à questão da participação das corporações na sociedade, que é a geração de resultado, mais relacionadas a alguns segmentos.

 Então o objetivo número 3, que é de saúde. O 4, que é educação de qualidade. Condições de trabalho decente, que é o 8. Cidades e comunidades sustentáveis, que é o 11. Então esses são objetivos que as empresas normalmente, pelas suas atividades, desempenham e atuam. Embora tenham algumas que tenham pontos específicos em todos esses objetivos. 

O questionário não foca diretamente nos objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU, esses 17 pontos. Eventualmente ele tangencia esses pontos porque são perguntas objetivas que são feitas para as empresas. “Então quais são as atividades desenvolvidas pela sua empresa na questão relacionada a treinamento e educação da sua força de trabalho?” 

Aí a empresa tem que apresentar os documentos, faz a resposta e apresenta documentos que refletem essas políticas. Por exemplo, temos aqui uma política em que todos os funcionários que ganham X (estou dando um exemplo) têm direito de receber bolsa de até tantos por cento ou 100% para os seus filhos estudarem. Entendeu? Então assim, são questões relacionadas a esses pontos em alguns aspectos. Porque assim, combate à pobreza, combate à fome… é óbvio que as empresas têm atividades relacionadas a isso. Mas assim, não faz parte do negócio da empresa, não é o business dela, fazer um negócio de combate à fome ou à pobreza como atividade fim da empresa. 

Então podemos dizer que os principais ODS que acabavam aparecendo no cálculo seriam esses que você comentou: saúde, educação, trabalho decente e cidades sustentáveis)? 

Sim, pode se dizer isso, que essas são algumas das áreas abordadas nos questionários que abordam essas questões desses objetivos do desenvolvimento sustentável. 

O desmatamento chega a ser capturado pelo índice? Empresas que desmatam podem compor esse índice? Existe um peso para esse quesito? 

Na verdade, a gente não tem uma medida sobre o desmatamento. 

O que se busca é ver a sua atividade sustentável. Como a sua atividade é sustentável. Vamos falar dos frigoríficos: eles têm uma atividade que precisa ter um potencial de impacto ambiental. Então o que se busca é medir esse impacto através de N perguntas e questões. 

O desmatamento em si, a princípio, não é uma questão que retire uma empresa do índice. É uma questão que pode eventualmente dar uma nota baixa para a empresa. (…)

O desmatamento é olhado pela questão do impacto ambiental na atividade. Então se é uma atividade que o desmatamento é uma questão importante, a nota dessa empresa vai ser baixa. 

Tem uma crítica aí que diz “como é que uma empresa que desmata está no índice? Não deveria estar no índice”. Não é essa a questão. Não adianta a gente excluir a empresa. O que a gente precisa demonstrar é que ela tem peso menor. Ela tem uma nota baixa de ESG por conta dessa situação. E o que ela deve melhorar. 

Impacto maior para empresas de energia e frigoríficos

Se uma empresa tem uma atividade que tem o impacto ambiental, estamos falando frigoríficos, extração de petróleo, óleo, de energia elétrica que tem potencialmente um risco ambiental. Esse risco faz parte da atividade econômica daquela empresa.

O que o índice busca é verificar se a empresa está fazendo de uma forma sustentável, na sua atividade, ou seja desenvolvendo sua atividade de uma forma sustentável. Se tiver, quanto mais sustentável for melhor vai ser a nota. 

Quanto menos sustentável for mais baixa será sua nota. No nosso entendimento é, quanto menor a nota de uma empresa na nossa avaliação ESG, menos capital ela vai ter acesso, menos investimento direto de investidores ela receberá (…)

As empresas sustentáveis estão captando mais recursos do que as empresas que não são sustentáveis. Essa é uma realidade: os próximos 10, 15, 20 anos se mostrará inviável para algumas empresas que não mudarem a sua forma de olhar o seu negócio. 

Se o negócio não for sustentável, a base de toda discussão da sustentabilidade, se o negócio não for sustentável você não vai sobreviver. 

Tem limite de peso para evitar concentração no índice? 

Tem. Existe um limite que é 10%. E tem uma ponderação que a gente usa também, que é a questão da liquidez. A gente faz uma medição das empresas para garantir que as que têm maior peso não tenham problema de liquidez.

Às vezes pode acontecer da empresa ter uma nota excepcional na ESG e ela ser pouco negociável no mercado. 

Então se você bota lá um peso de 9% no índice ou 8%, quando você for replicar o índice, ou seja, comprar na carteira os 8% referente àquela empresa você pode ter dificuldade pela questão de liquidez. 

Isso é apenas uma previsão que a gente faz, tá. Mas a gente observa essa questão da liquidez também. 

Como funciona a avaliação, é um questionário com perguntas?

É um questionário anual que é enviado para as empresas,  foram 14 mil empresas agora para 2021, que estão participando do processo.

Porque esse assessment é feito a nível global. Então você pega um determinado padrão, se cada país tiver um padrão diferente você não consegue comparar nada, a grande vantagem de um processo global, você pode comparar empresas brasileiras do setor elétrico com impacto ambiental de empresas do setor elétrico da Índia. 

Porque a medição é a mesma, não tem régua diferente, a gente mede as mesmas coisas, na nossa avaliação, o grande diferencial do índice é que ele segue uma metodologia internacional.

Avaliação global

 Então você pode comparar o desempenho do S&P/ B3 Brasil ESG Brasil, com o índice ESG no México, com o índice ESG na Europa ou o índice ESG no Japão, porque a metodologia deles é semelhante e leva em consideração os mesmos aspectos.

A gente envia para essas 14 mil empresas, geralmente uma parte dessas empresas responde diretamente, elas voluntariamente participam. No caso do Brasil, das 161 empresas, para esse ano foram 60 empresas, respondendo, ativamente, ao questionário. As demais são avaliadas pelo nosso pessoal do CSA.

 Então eles vão procurar informação e com base em informações públicas, aqueles quesitos, então por isso que falei a nota baixa não necessariamente significa que a  empresa  não esteja correta.

Você simplesmente pode não ter tido acesso a informação, quando você vai lá olhar uma empresa que não responde ao questionário, a gente vai procurar as informações sobre educação, questão do ODS 4  referente a educação de qualidade, se aquilo não tiver publicamente disponível a gente não consegue avaliar, não consegue dar nota para aquilo, o que não necessariamente significa que a empresa não tenha mas quer dizer que não está publicamente disponível.

Então historicamente as notas, os score das empresas que participam respondendo ao questionário ativamente, as notas são melhores do que as empresas que não participam ativamente.

Importante fazer essa diferenciação de empresas que participam respondendo ativamente o questionário e empresas que não respondem que são avaliadas com base nas informações públicas. 

As respostas precisam ser auditadas?

Todas as informações apresentadas precisam estar documentadas, estar com base, não adianta dizer que “tenho uma política de inclusão social”, mas cadê? Como é que funciona?

Cadê a política, como está implementada dentro da estratégia da empresa, então é feita uma verificação, quando é com base em uma informação é pública, às vezes você tem a dificuldade de enxergar isso, e aí por isso a nota é mais baixa.

Além dos requisitos citados, uma companhia que não faz parte do índice S&P B3 ESG mas gostaria de fazer parte, como funciona essa inclusão de novos membros?

As empresas listadas na B3, já são automaticamente elegíveis a serem avaliadas, então elas vão ser convidadas a participar do próximo CSA.

Por exemplo as empresas que abriram capital agora nesse período, no segundo semestre, elas não estavam na bolsa listadas quando foi feito o CSA 2021, quando começou, então a gente no ano que vem tem alguns critérios, não tenho de cabeça, mas são critérios para garantir que as empresas tenham condições de participar, elas vão receber uma correspondência convidando a participarem.

Mas é um processo que toma tempo, são estimados 100 horas, para preencher todo o questionário, toda a documentação, tem que ser tudo em inglês então não é nem sempre para uma empresa que está começando uma tarefa fácil de fazer.

Às vezes a empresa tem outras prioridades. Então a empresa pode, nessas condições, receber o convite e participar, ou ela pode também, se ela não tiver recebido o convite por algum motivo, ela pode contratar, o questionário, avaliação, CSA, ela pode contratar isso. 

Por exemplo, ela não quer dar o disclosure do mercado, ela vai e contrata e diz “olha quero fazer uma avaliação ESG fechada”, faz a avaliação com base naquelas informações, da a nota para ela, e ai ela vai decidir se quer tornar isso público ou não.

Agora as informações das empresas convidadas, essas se a empresa não quiser participar a nota será considerada, será apurada, com base nas informações públicas.

Quando a empresa não é convidada mas decide fazer essa avaliação os dados dela não necessariamente serão publicados, mas se a empresa é convidada e ela não responder o questionário de vocês ela é pontuada mesmo assim, porque recebeu o convite.

Essa pontuação é feita pelas equipes da S&P, vai fazer e apurar a nota, e a gente usa essa nota para o ranking, dentro do índice.

Então determinada  empresa que foi convidada não quer participar do questionário a gente vai buscar as informações, demonstrações financeiras, enfim, todos os documentos da empresa que estão relacionados com aquelas questões, aquelas perguntas referentes àquele setor.

Se a gente não tem informação ela vai ficar sem avaliação desse quesito, por isso a nota tende a ser mais baixa.

Quais os cuidados tomados para evitar greenwashing (maquiagem), para entender que de fato a companhia está cumprindo com o que está informando?

A gente trabalha sempre com documentação das empresas, todas aquelas políticas, respostas dadas pela empresa ao questionário precisam ser comprovadas, através de documento, políticas, compromisso, decisão do board da empresa, tudo é, mas ainda assim é possível ocorrer que a política não atendeu não funcionou (…)

Há também acompanhamento que a gente chama de mídia stakeholder analysis que são a base para a remoção das empresas (…)

Dependendo do resultado da investigação a empresa é excluída ou não do índice.

O que fazem de diferente as empresas que representam os 10 maiores pesos do índice?

A questão principal é realmente o peso dessas empresas nas suas avaliações ESG, a Embraer está com maior peso dentro do índice, ela tem 3,2% do índice, ela tem características específicas da sua avaliação ESG(…), no setor dela, a indústria.

Não é justificativa individual para cada uma das empresas, simplesmente essas são empresas que tiveram dentro da metodologia do índice, maior peso em função obviamente de política de ESG sustentabilidade de acordo com os pesos dessas 3 dimensões no seu setor.

Não tem uma justificativa específica, um conjunto de iniciativas ou políticas ou de atividades desenvolvidas pela empresa, naquele segmento para ela ter tido aquela avaliação, aquela nota e portanto o peso.

Como foi dito, o índice S&P/B3 ESG não é público, por isso as 131 ações não aparecem para o investidor pessoa física, mas para investidores institucionais que vão utilizar como benchmark.  Pela parceria com a B3, não faria sentido em algum momento essa carteira teórica aparecer para o público?

Essas informações são públicas, para o índice ser utilizado como um ETF, a informação tem que ser pública, essa informação está disponível no site do BTG Pactual, por exemplo, vai encontrar essa informação.

Eventualmente, essa informação tem uma defasagem que a CVM autoriza, defasagem no tempo, porque é informação sensível para provedores de índice, 

Então, a opção da S&P é não publicar a carteira toda, a gente não publica essa informação. Agora o gestor do ETF quando ele contrata o índice, ele tem a obrigação pela CVM de publicar a informação, para estar disponível nos sites de quem tem produtos vinculados ao índice.

É uma informação passada pela S&P para eles, mas não subimos esse dado.

A metodologia está toda em inglês, tem algum jeito do investidor pessoa física achar isso em português?

Todas as Informações sobre número do índice, variação diária, mensal, anual, se entrar site da S&P as informações estão todas lá, metodologia, tudo isso é público, a única coisa que não é público é o nome das empresas que participam no índice, os pesos e as suas avaliações ESG.

Se entrar no site vai chegar no site da S&P em português é só botar a palavra chave S&P B3 ESG.

Lá tem a descrição do índice, principais dados, ponderação do índice, frequência de rebalanceamento, moedas, caraterísticas principais, capitalização e produtos vinculados ao índice, no caso é o ETF do BTG ai depois tem notícias e pesquisas aí são materiais ao índice ESG em geral. Tem em portugues, inglês e espanhol também. 

A carteira não é disponibilizada, a metodologia é toda pública, determinação da CVM, toda informação exigida pela CVM é pública. 

A página em português você encontra rentabilidade, metodologia, tudo lá, o que não vai encontrar é a composição da carteira 131 empresas e os pesos delas.

*Esta reportagem faz parte da série Contradições do ESG, que pode ser republicada desde que citando-se créditos dos autores e da Agência Nossa, nos termos e condições da licença Creative Commons de compartilhamento e uso não comercial.