Enquanto a Amazônia alcançou, em 2021, a maior taxa de desmatamento em 15 anos, as multas aplicadas pelo Ibama por crimes contra a flora na região enfrentam uma queda histórica no governo Bolsonaro. Desde 2019, o desmatamento aumentou 53% mas as multas recuaram 39%, segundo o Observatório do Clima (OC).

Em 2020, foram aplicadas 2.334 autuações pelo Ibama, metade da média aplicada na década anterior. O órgão sofre com baixas no quadro de pessoal e medidas do próprio governo que inibem e enfraquecem a fiscalização.

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A explosão do desmatamento na Floresta Amazônica ocorreu mesmo com a União destinando mais de meio bilhão de reais para operações militares na região. Porém o Painel do Orçamento Federal mostrou que dos R$ 234,6 milhões previstos para a fiscalização ambiental no bioma em 2021, apenas apenas um quarto (26,5%) foi liquidado até a última quinta-feira (18).

A estimativa oficial do órgão aponta que foram devastados 13.235 km2 de agosto de 2020 a julho de 2021, sendo a maior taxa de desflorestamento desde 2006, quando o Brasil ainda era governado por Lula. Sob o governo do presidente Jair Bolsonaro, a área desmatada na Amazônia já chega a 34.215 km2, sendo maior que a Bélgica.

Fiscalização é dificultada, multas recuam e desmatamento cresce na Amazônia.

O site Fakebook.eco, uma iniciativa do Observatório do Clima, apontou que uma reportagem da Associated Press revelou que o governo brasileiro já tinha pronta, quatro dias antes do início da COP26, a nota do Inpe sobre os dados do desmatamento. Segundo a matéria da agência, a escolha de omitir os números sobre a Amazônia foi tomada no Palácio do Planalto por Bolsonaro e mais seis ministros. 

Após a divulgação dos dados do Inpe, o ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite afirmou, em coletiva na última quinta (18), que está terminando de executar o orçamento para a fiscalização ambiental e que a atuação da Força Nacional não se refletiu nas taxas de desmatamento porque a operação começou em agosto.

Mas dados preliminares do Deter, sistema de alerta do Inpe, demonstra que em setembro e outubro deste ano, em comparação aos mesmos meses de 2020, houve aumento dos alertas de desmatamento.

Desmatamento no AM preocupa

Para o projeto Fakebook.eco, plataforma que surgiu para combater a desinformação ambiental, um dos dados mais preocupantes do novo Prodes, programa que realiza o monitoramento por satélites do desmatamento na Amazônia Legal, é a explosão do desmatamento no Estado do Amazonas, o segundo mais preservado da região.

A devastação no estado cresceu 55%, fazendo o Amazonas ultrapassar Mato Grosso como segundo estado mais desmatado da Amazônia Legal. Apesar desse aumento, as multas ambientais por crimes contra a flora despencaram no Amazonas: foram aplicadas 280, o menor número desde 2004.

De acordo com o Facebook.eco, a devastação se concentra no sul do Estado, por onde passa a BR-319, estrada que o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, tenta pavimentar a todo custo, passando por cima do rito de licenciamento ambiental. O desmatamento na região pode indicar um surto de grilagem e especulação fundiária em antecipação à obra – uma tendência histórica na Amazônia, como vem ocorrendo no entorno da BR-163, no Estado do Pará, que lidera o desmatamento.